segunda-feira, abril 01, 2013

A Culpa do Homem e a Memória de Deus

Reflexões do Salmo 25: 1 – 11

 Não é fácil lidar com a culpa. Não é fácil esquecer os deslizes e os fracassos do passado. Não é fácil perdoar a si mesmo. Por mais que sejamos dóceis ou tolerantes com os que nos cercam, costumamos ser rigorosos e implacáveis conosco (o contrário também é bastante possível, mas não é, por ora, nosso assunto). Imaginamos que somos capazes de uma trajetória sempre ascendente, quiçá meteórica, sem percalços, e não nos damos o direito de errar, tropeçar, cair. Quando isso acontece, mastigamos, ruminamos o ocorrido, penitenciando a nós mesmos e lamentando nossa desgraça. Às vezes, carregamos sentimentos de culpa por anos, décadas. Quando não pela vida toda.
A culpa adoece a alma. A ruminação alimenta complexos e problemas com a autoestima. A autocobrança exagerada dificulta os relacionamentos. É preciso vencer as raízes de amargura interiores. É preciso superar os dissabores da caminhada. É preciso viver com leveza e alegria, apesar das adversidades e marcas indesejáveis. Mas será que há um remédio para a alma ferida? Será que há um antídoto para os sentimentos de culpa? Será que há um jeito de vencer as lembranças que corroem o coração?
O autor do salmo 25 parece ter encontrado o caminho da cura interior. Embora consciente de suas imperfeições e pecados (perdoa a minha grande iniqüidade), os quais faziam parte de sua biografia desde cedo (os pecados da mocidade), não vivia aprisionado a eles. Sentia-se livre e pronto para o futuro. Podia cantar e celebrar a bondade do Senhor.

Qual o segredo?
Em primeiro lugar, o salmista conhecia e confiava no caráter misericordioso de Deus (Bom e reto é o Senhor, por isso aponta o caminho aos pecadores… Todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade…). Boa parte de nossas culpas e temores é fruto de nossa visão de Deus como um ser exigente e impiedoso, muitas vezes influenciada pela postura intransigente e cobradora de alguém com quem convivemos no passado. Somente um encontro pessoal com o Pai e uma leitura correta de Sua palavra poderão nos levar à fé num Deus que é rico em compaixão e pronto a perdoar.
Em segundo lugar, o salmista demonstrou real arrependimento quanto aos seus pecados (ensina-me tuas veredas… és o Deus da minha salvação, em quem espero todo o dia… Não te lembres dos meus pecados… Por causa do teu nome, Senhor, perdoa…). Somente o verdadeiro arrependimento, carregado de um desejo de mudança e novidade de vida, aplaca o remorso e o sentimento de culpa. O arrependimento toma decisões quanto ao futuro. O remorso fica escravizado às algemas do passado. O arrependimento justifica e aperfeiçoa (dos que em ti esperam, ninguém será envergonhado…). O remorso nasce do orgulho que conduz a novos e piores erros (o serão os que, sem causa, procedem de forma traiçoeira).
Em terceiro lugar, o salmista mostrou-se humilde o suficiente para aprender com os erros e, principalmente, com a verdade de Deus (Faze-me, Senhor, conhecer teus caminhos… Guia-me na tua verdade… ensina-me… Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho…). Uma das armas poderosas que Deus nos concede para vencer os sentimentos de culpa é a oportunidade de transformar erros em caminhos para um caráter aprovado. Ele transforma maldição em bênção, tragédia em triunfo, tristeza em alegria.
A vantagem de reconhecermos, ainda que à força, nossas limitações e imperfeições é também reconhecermos a graça, o amor e a bondade de um Deus que não nos trata conforme nossos merecimentos. Um Deus que faz questão de ter memória seletiva (Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas bondades… Não te lembres dos meus pecados… Lembra-te de mim segundo tua misericórdia, por causa da tua bondade)! Ele age com bondade e misericórdia e é o mesmo que Jesus nos ensinou a chamar de Pai. O mesmo que, em Cristo, nos deu o exemplo do amor que supera a transgressão e da graça que apaga multidão de pecados. O mesmo que, tendo derramado sangue inocente numa cruz, chamou pecadores irremediáveis à condição de filhos justificados e redimidos. Um Deus de amor!

Texto de: Pr. Marcelo Gomes

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